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8 de dezembro de 2010


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Eternidade não era só o tempo, mas algo com a certeza enraizadamente profunda
do não poder contê-lo no corpo por causa da morte;
a impossibilidade de ultrapassar a eternidade era eternidade;
e também era eterno um sentimento em pureza absoluta, quase abstrato...


Definia eternidade e as explicações nasciam fatais como as pancadas do coração.
Delas não mudaria um termo sequer, de tal modo eram sua verdade.
Porém mal brotavam, tornavam-se vazias logicamente.
Definir a eternidade como uma quantidade maior que o tempo
que a mente humana pode suportar em idéia também não permitiria,
ainda assim, alcançar sua duração.
Sua qualidade era exatamente não ter quantidade,
não ser mensurável e divisível porque tudo o que se podia medir e dividir
tinha um princípio e um fim.
Eternidade não era a quantidade infinitamente grande que se degastava,
mas eternidade era a sucessão.



(Clarice Lispector - Perto do coração selvagem)

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4 comentários:

AC disse...

Lê-se este pequeno naco de prosa e o pensamento solta-se, quase se perdendo em divagações. Insiste-se na leitura e o resultado é idêntico. Com Clarice é assim...

Beijo :)

Priscila Rôde disse...

Meu Deus...
Clarice é maravilhosa!

Gisa disse...

Não me canso de amar Clarice Lispector!
Um bj querida amiga.

Alice disse...

Eternamente Clarice...

Perfeito amiga!

Beijos no coraçao!