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30 de junho de 2013

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Eu aceito as dificuldades da vida porque são o destino,
Como aceito o frio excessivo no alto do inverno -
Calmamente, sem me queixar, como quem meramente aceita,
E encontra uma alegria no fato de aceitar - 
No fato sublimemente científico e difícil de aceitar o natural inevitável.


|Poemas completos de Alberto Cairo|





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6 de junho de 2013

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... Ele veio e na despedida dei de presente o veneno do meu beijo. 
Talvez o mate. Talvez o salve. Ainda não sei.

|Franck Santos - Quando ele veio|

|Fogo-Fátuo|





24 de maio de 2013

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- Meia hora, uma hora antes de você chegar você já atrasou, já está demorando. 
Você subverte o tempo.



|Pedro Nava - O Círio Perfeito|






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23 de maio de 2013

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Sempre que distraidamente via seu nome escrito
lembrava-se de seu apelido na escola primária:
Margarida Flores de Enterro.
Por que alguém não se lembrava de apelidá-la de
Margarida Flores do Jardim?
É que as coisas simplesmente não eram do seu lado.
Pensou uma bobagem: até a sua pequena cara era de lado.
Em esquina.
Nem pensava se era bonita ou feia. Ela era óbvia.
Depois. Depois não tinha problemas de dinheiro.
Depois havia o telefone. Telefonaria para alguém?
Mas sempre que telefonava tinha a impressão nítida de que
estava sendo importuna.
Por exemplo, interrompendo um abraço sexual.
Ou então era importuna por falta de assunto.
E se alguém lhe telefonasse?
Iria ter que conter o trêmulo da voz alegre
por alguém enfim chamá-la.
Supôs o seguinte:

- Trim-trim-trim.
- Alô? Sim?
- É Margarida Flores de Jardim?
Diante da voz masculina tão macia, responderia:
- Margarida Flores de Bosques Floridos!
E a cantante voz a convidaria para tomarem chá de tarde
na Confeitaria Colombo.
Lembrou-se a tempo que hoje em dia
um homem não convidava para tomar chá com torradas
e sim para um drinque. O que já complicaria as coisas:
para um drinque se deveria ir na certa vestida de modo
mais audacioso, mais misterioso, mais pessoal, mais…
Ela não era muito pessoal.
E que incomodava um pouco, não muito.

E, além do mais, o telefone não tocou.



(Clarice Lispector - A Bela e a Fera)








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Pois é nos desvios que se encontram as maiores surpresas.

|Manoel de Barros - O Livro das Ignorãça|


- Pois a ti me traziam todos os meus desvios.


|Hermann Hesse - Andares- Antologia Poética|







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2 de abril de 2013

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(...)

Acontece que a beleza se esconde em tudo que é feio.
É preciso ver por trás do cinza, porque lá está o céu azul. Você me entende?

- Sei. Drummond, uma flor no meio do asfalto.

- É.

- Que flor? Girassol?

- Girassol não nasce no meio do lixo.




| Tiago Fabris Rendelli |



Página mais linda que encontrei no facebook: http://www.facebook.com/giraontem










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28 de março de 2013

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Pensei numa festa - sem bebida, sem comida, festa só de olhar.
(...)
Para essa festa eu convidaria todos os amigos e amigas que tive e não tenho mais.
Só eles, sem nem sequer os entre-amigos mútuos.
Pessoas que vivi, pessoas que me viveram.


|Clarice Lispector - O chá| |Para não Esquecer|







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26 de março de 2013

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Assim tem sido sempre a minha vida, e 
assim quero que possa ser sempre -
Vou onde o vento me leva e não me
Sinto pensar.



|Poemas completos de Alberto Caeiro|







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Experimentou calcular se estaria perto ou infinitamente longe 
daquilo que acontecia em algum lugar. 
Mas parava, e de novo o silêncio do sol se refazia e o desorientava.

|Clarice Lispector - A Maçã no Escuro|








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24 de março de 2013

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(...) - o meu, o nosso amor! - por ele eu me afinava: 
podia, queria, devia passar a um estado limpante novo de ser. 
E não é para isto, que é o amor?



|Guimarães Rosa - A simples e exata estória do burrinho do comandante|

|Estas Estórias|








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