então é que jamais poderá me entender. Eu, em pequena, roubava rosas.
Bem, mas isolada no seu canteiro estava uma rosa apenas entreaberta cor-de-rosa-vivo. Fiquei feito boba, olhando com admiração aquela rosa altaneira que nem mulher feita ainda não era. E então aconteceu: do fundo de meu coração, eu queria aquela rosa para mim. Eu queria, ah como eu queria. E não havia jeito de obtê-la.
No meio do meu silêncio e do silêncio da rosa, havia o meu desejo de possuí-la como coisa só minha. Eu queria poder pegar nela. Queria cheirá-la até sentir a vista escura de tanta tonteira de perfume.
O que é que fazia eu com a rosa? Fazia isso: ela era minha.
Nunca ninguém soube. Não me arrependo: ladrão de rosas e de pitangas tem 100 anos de perdão. As pitangas, por exemplo, são elas mesmas que pedem para ser colhidas, em vez de amadurecer e morrer no galho, virgens.
(Clarice Lispector - Cem anos de perdão)
(Felicidade clandestina)
. .
5 comentários:
Quem nunca roubou uma rosa que atire a primeira pedra ne!
Lindo, Clarice Lispector é demais!
Adorei!
bjos
Aqui estou, não poderia deixar de vim...e, encantado estou! Sigo-a aqui tbém, claro!
Bjs e uma boa semana!
Suzi querida...me fez lembrar Cazuza, na música "Foi por amor, o assassinato da flor".
Perfeito seu blog, PERFEITOOO!
Um abraço meu!!!
Que lindo amiga!
Eu ja roubei rosas rsrs... Acredita?
Uma semana linda e florida para voce querida!
Li esse conto a tanto tempo...
adorei as ilustrações
bjos querida
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