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6 de maio de 2011

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Mais severa e profundamente, impressionava-me a visão das árvores.
Via cada uma delas fazer sua vida, criar a sua forma e copa particulares,
e lançar a sua sombra própria.
Pareciam-me eremitas e combatentes, mais aparentadas às montanhas,
pois cada uma delas, especialmente as que se erguiam no alto dos montes,
travava a sua silenciosa e tenaz batalha pela existência e crescimento,
contra ventos, tempestades e rochas.
Cada uma tinha que carregar o seu peso, e cravar-se firmemente,
e daí advinha a cada uma a sua forma específica e feridas particulares.
Havia pinheiros bravos a que a tempestade apenas permitira manter um dos seus ramos,
e outros cujos troncos vermelhos se haviam retorcido como serpentes sobre rochas proeminentes,
de forma que a árvore e a rocha se apertavam uma contra a outra, amparando-se.
Olhavam-me como homens aguerridos e infundiam receio e respeito no meu coração.
Mas os nossos homens e mulheres assemelhavam-se-lhes, eram rijos,
asperamente enrugados, parcos em palavras, quanto melhores tanto mais parcos.

Aprendi assim a olhar os homens como árvores ou rochas, a pensar sobre eles,
a respeitá-los, nem menos, nem mais que os silentes pinheiros.



(Hermann Hesse - Peter Camenzind)


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