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3 de fevereiro de 2011

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.O que não existe de se ver,
tem força completa demais,
em certas ocasiões

(Guimarães Rosa - Grande sertão: veredas)



Embora o realismo dos adágios teime no contrário,
tolerem−me o arrojo de afrontar uma vez a sabedoria dos provérbios.
Eu me abalanço a lhes dizer e redizer de não.
Não é certo, como corre mundo, ou, pelo menos, muitas e muitíssimas vezes, não é verdade,
como se espalha fama, que “longe da vista, longe do coração”.
O gênio dos anexins, aí, vai longe de andar certo.
Esse prolóquio tem mais malícia que ciência, mais epigrama que justiça,
mais engenho que filosofia.
Vezes sem conto, quando se está mais fora da vista dos olhos, então (e por isso mesmo)
é que mais à vista do coração estamos;
não só bem à sua vista, senão bem dentro nele.

(...) não: o coração não é tão frívolo, tão exterior, tão carnal quanto se cuida.
Há, nele, mais que um assombro fisiológico: um prodígio moral.
É o órgão da fé, o órgãoda esperança, o órgão do ideal.
Vê, por isso, com os olhos d’alma, o que não vêem os do corpo.
Vê ao longe, vê em ausência, vê no invisível, e até no infinito vê.



(Rui Barbosa - Oração aos moços)

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