.

.

.

16 de abril de 2010


Quando se deseja realmente dizer alguma coisa,
as palavras são inúteis.
Remexo o cérebro e ela vêm, não rara, mas toneladas.
Deixam sempre um gosto de poeira na boca — a poeira do que eu tentava expressar, e elas dessolveram.
Quanto mais palavras ocorrem para vestir uma idéia,
mais essa idéia resiste a ser identificada.
As sucessivas roupas sufocam a sua nudez.
E todas as palavras são uma grande bolha de sabão,
às vezes brilhante, mas circundando o vazio.
Ah, se eu pudesse escrever com os olhos, com as mãos,
com os cabelos— com todos esses arrepios estranhos
que um entardecer de outono,
como o de hoje, provoca na gente.

(Caio F. Abreu - Limite branco)


*

Nenhum comentário: